Compartilhar informação sobre Aleitamento Materno não é um trabalho fácil. Sempre que vejo um comentário hostil em relação a algum post do Amamentar é… corro para ver se ele procede.
Muitas são as ocasiões em que noto uma dose cavalar de identificação e culpa por parte das mães que se sentem de alguma forma atingidas, julgadas e colocadas na berlinda pelas colocações que estão expostas em textos e entrevistas do projeto. Assuntos como cesariana, mamadeira, chupeta e desmame precoce, são os que mais geram polêmicas e crises. Nessas ocasiões procuro ver se o conteúdo do post está realmente de alguma maneira segregando mães ( tenho horror a isso ) e o que venho aprendendo é que uma simples informação, por vezes, já causa este tipo de comoção, como se ela fosse um dedo apontado para o nariz da mãe que, por algum, ou alguns motivos não amamentou seguindo os preceitos dos órgãos responsáveis pela saúde de nosso país.
Me sinto impotente frente a este desafio, que seria o de conseguir passar a informação sem ferir os sentimentos de quem já se sente de fora, injustamente excluída, marginal! Como fazer isso?!
O compartilhamento da informação tem um papel definitivo, principalmente no Brasil, onde somos atendidas por uma massa de pediatras que não têm a menor intenção de incentivar a Amamentação. Eles são os primeiros a desacreditar de nossa capacidade, a não se preparar profissionalmente para avaliar se a mamada está correta, a receitar o leite em pó ao menor sinal de dificuldade da mãe e mesmo antes dele! Como poderíamos nos defender deste massacre se não tivéssemos acesso a informação de qualidade? Ela é uma ferramenta e tanto, e por que não dizer uma arma, nessa guerra contra a falta de apoio e incompetência médica.
Mas por outro lado tem outro efeito também, que é o de deixar a mãe frente a frente com suas escolhas.
E me acreditem, sei o que é isso, sou mãe e passo por isso diariamente. Cada pequena ou grande coisa que digo ou faço para os meus filhos me deixa marcas. Tenho como escapar? Não.
Da cesariana já feita? Da chupeta já oferecida? Da mamadeira que muda a pega do bebê? Do hábito das mamadas noturnas que me irritavam nas madrugadas? Do término do desmame no nono mês? Não.
A informação incomoda. Faz trazer à tona aquilo que já sabíamos e engavetamos. E assim ela soa “soberba” como falava outro dia uma mãe num comentário de um post sobre desmame. Por que ela é sim soberana, e quando já não estamos bem, parece que nos humilha com sua falta de subjetividade, com a forma com que não nos ouve.
O certo fala sozinho, não nos vê e nem nos leva em consideração. O certo, o que deveríamos ter feito e não fizemos, ou sabemos que não conseguiremos fazer, nos torna humanos, reles mortais! O certo é insuportável quando inatingível!
“-E essa porcaria de Amamentar é… para me lembrar que não consegui e não conseguirei nunca ser a mãe dos ideais.” É assim que acho que se sentem algumas pessoas que passam por aqui.
Sinto muito! Mas para mim, mesmo assim, acredito que já que não temos apoio, incentivo e atendimento médico adequado, o que nos resta é a informação, ela, dura e seca, desce muitas vezes como uma pedra até o estômago, mas não nos vitimiza, e nos torna agentes e não pacientes. E saber que, sim, tem gente por aí que se importa e que quer ajudar uma outra mãe a amamentar faz uma imensa diferença. Mesmo que ela tenha tido uma cesariana, que ela ofereça a chupeta, que ela perca a paciência nas mamadas noturnas, que ela tenha oferecido a mamadeira e o leite em pó por desespero e cansaço! Por que é assim a nossa realidade, para a grande maioria de nós! Todos estes elementos fazem parte da nossa cultura.
Quando tive meus filhos não havia um Amamentar é… na minha vida, o que fez, e ainda me faz sentir a mãe “não ideal” é a própria maternidade. Nela está o maior dos aprendizados: por mais que eu me esforce sempre algo sai errado! E durma com esse barulho!
E assim sigo carregando, engavetadas ou não, minhas escolhas maternas: minha cesariana, as chupetas, as mamadeiras, as noites mal dormidas, o desmame, o desfralde mal feito, a escola mal escolhida… E por aí vai!