Amamentar tem seu tempo, e para cada mãe ele é um... Quem pode julgar o que é certo e errado?
09/09/2014
Chris Nicklas
A mãe entra na sala do consultório. Se senta na frente do médico com seu bebê no colo.
Está cansada. Há noites não dorme mais de duas horas seguidas. Está insegura.
Não sabe mais muito bem o que quer…
Seu filho tem um ano, o pior já passou! Meu Deus, como foi difícil no começo.
Hoje sente falta de tudo. Do trabalho, do cinema, da intimidade com o marido, das noites bem dormidas… Mas amamentar foi sua escolha e com ela abriu mão de muitas coisas. Faz parte, nada mais natural. Mas já há algumas semanas algo mudou e sua escolha tem sido mais custosa para ela.
De frente do pediatra começa a falar timidamente de como se sente, mas sabe que tem nele um fervoroso defensor do Aleitamento Materno. O que é ótimo! Uma escolha sua na verdade, talvez não tivesse conseguido chegar onde chegou se não fosse por ele e seu apoio. Mas agora quer, precisa, ser ouvida…
Logo que inicia seu desabafo ouve do profissional que o melhor é que seu bebê mame no seio pelo menos até os dois anos e se possível mais.
Ela se sente constrangida, já não conseguiu ter um parto normal, o que foi duro de esquecer. Se cobrou durante tantos meses, se perguntando onde errou. Sentiu- se engolida por um sistema que ignora todas as estatísticas e dados da Saúde mais recentes.
O aleitamento materno também foi um processo cheio de surpresas, algumas bem chocantes. Mas agora seu sentimento é de que seu tempo acabou. Não quer mais. Estaria ela mais uma vez falhando em sua missão materna? O que fazer com tudo o que leu, com todas as informações que martelam sua cabeça. Estaria sendo egoísta? O melhor para o bebê tem que vir em primeiro lugar? Mas a que preço?
Amamentar não é para ser bom?
Não sente mais assim… É capaz que tenha superestimado sua capacidade de estar ali, disponível dessa forma. E a livre demanda ironicamente se tornou uma prisão para ela.
Apesar de avaliar e reavaliar os prós e os contras a sensação de decepção que ela tem em relação a si mesma é esmagadora.
Precisa colocar para fora tudo o que pensa e de alguma forma espera ser respeitada.
Enquanto descreve para o médico sua situação, a cada frase que termina, a cada pausa que da, é interrompida por um decidido discurso imbuído do objetivo de prolongar por mais tempo a amamentação.
Mas o que há de errado nisso? Nada, a não ser o fato de que essa consulta deixou de ser uma conversa entre a mãe e o médico e passou a ser um monólogo em defesa do aleitamento materno.
O tiro sai pela culatra e dali a mãe sai irritada e ainda mais indisponível. Sem sequer uma luz no horizonte, sem ter nenhuma de suas demandas atendidas se sente péssima. As normas e os certos e errados, se opõem a sua forma de sentir.
Como achar o equilíbrio entre o que aprendeu ser o correto e o que é capaz de oferecer ao seu filho? Seria ela uma mãe negligente? Essa pergunta não sai de sua cabeça!
De que adianta procurar ajuda se o que encontra são imposições e protocolos que a fazem se sentir cada vez mais culpada e egocentrada? No fundo ela sabe, há algo de errado em tudo isso, ela não é uma má mãe, muito pelo contrário! Ama seu filho como nunca amou ninguém! Mas amamentar não é mais uma opção e ela não encontrou na consulta médica um meio termo que acalmasse seu sentimento de urgência. Saiu dali sem saída a não ser desmamar…
Que pena. Poderia ter sido diferente.
O discurso em Prol do Aleitamento Materno não deve nunca desprezar o seu interlocutor. A mãe que não é ouvida desmama!
Por que Amamentar é … acima de tudo uma relação, da qual a mãe faz parte!