Ana Paula fala de sua rica experiência amamentando sua filha Heloisa que nasceu com Fissura Labial.
26/04/2014
Chris Nicklas
No dia 12/03/2013 descobrimos, com muita alegria, que teríamos nosso segundo bebê, muito esperada e planejada.
Tudo corria muito bem. Com 13 semanas já sabíamos que seria uma princesinha e a chamamos de Heloisa Valentina.
Foi na ultrassonografia morfológica, de 20 semanas, que foi constatado que ela nasceria com fissura labial. Lembro da minha primeira pergunta ao Doutor: – Ela vai mamar? Ele me disse sim, de maneira muito natural.
Fui pra casa muito aflita e comecei a ver na internet vários depoimentos, vi que outros bebês não conseguiam sugar. Uma semana depois refiz o exame e desta vez foi mais detalhado, seria fissura bilateral com comprometimento de palato e sendo assim ela não conseguiria mamar no seio. Sofri muito, pois pra mim amamentar é algo incrivelmente maravilhoso, chorava muito, tinha medo e receio de como seria. Fui à psicóloga e ela perguntou como estava sendo, me lembro de responder apenas que queria amamentar, foi a gestação inteira assim me preparando para NÃO amamentar, pois realmente não seria possível.
Chegado o grande dia, fiquei muito ansiosa, tive medo, mas para nossa surpresa a primeira palavra que o Doutor disse foi: não tem fissura de palato, mas vai precisar de um bico especial para mamar, foi nessa hora que pensei: – um bico especial, eu tenho! Me dediquei muito, logo na Maternidade tive o privilégio de ter uma grande amiga que trabalha lá, ela me incentivou muito, poucas horas após o parto já consegui amamentá-la pela primeira vez. Ela também se esforçava, gostava de segurar meu dedo ao mamar.
Não tive dificuldade para amamentá-la, ela conseguia fazer a pega no seio perfeitamente, era bem o que a psicóloga falava: ela se adapta a própria condição.
Na maternidade deram a ela leite artificial no “copinho”, pois temiam que ela perdesse peso, em casa eu ordenhava o peito e dava no copinho para garantir que estava mamando, fiz isso por umas duas semanas, logo vi que ela mamava super bem e continuei somente no seio. Ela sempre ganhou peso, é bem gordinha assim como minha outra filha Isabelli que mamou até 1 ano e 8 meses.
Em relação ao desenvolvimento da boca não tenho nenhuma informação se amamentar pode ter contribuído para melhorar algo. Amamentar um bebê com fissura não tem diferença “técnica” apenas dá mais prazer, valorizei ainda mais, é bem comum as pessoas perguntarem: – Ela mama no seio!? Respondo que sim e sempre há surpresa por parte dos outros. Alguns dias tive vontade de desistir no meio das semanas em que tinha que ficar ordenhando, eu achava difícil e demorado, era muito empenho, mas eu pensei que seria o melhor e já que ela era capaz de sugar seria uma brutalidade da minha parte negar o aleitamento a ela, me dediquei e não me arrependo.
Minha maior lição de tudo o que passei é que não há dificuldades que não possamos enfrentar, muitas desistem porque o seio racha, dói, sangra, mas vendo minha bebê, mesmo com a boca deficiente, ela só queria mamar. Ela venceu e eu também.
O momento mais difícil que enfrentei foi a ansiedade em esperar o leite descer, nessa gestação foi diferente, na primeira gravidez com 20 semanas já tinha leite, quando ela nasceu então daria para amamentar uns dois com certeza, mas nessa gestação não sei se talvez devido ao diagnóstico e o pensamento de que ela não poderia mamar, demorou para descer o leite, tinha medo de não ter, mas agora vejo que foi apenas ansiedade.
Falta apenas uma semana para a cirurgia de correção, o cirurgião plástico disse que não haverá interferência na amamentação, pelo contrário só conseguirá mamar no seio, sei que será diferente e no início ela sentirá dor, mas é somente por um tempinho, a recuperação é muito rápida. O maior beneficio que o aleitamento fez para ela é em relação a cirurgia, os riscos de infecção diminuem muito. Fora que é o melhor momento, chego a rir sozinha, é muito prazeroso e nosso vínculo se fortalece.
Gosto de amamentá-la em público, pra mim é como mostrar aos outros que ela não é diferente de ninguém, encaro os preconceitos contra ela de frente, sem medo, ando de cabeça erguida. Sou todos os dias interrogada por pessoas que não sabem e não conhecem crianças com fissura, sou preparada, minha filha é linda e eu a amo do jeito que ela é.
Eu sou Ana Paula mãe da Isabelli e da Heloisa e por “hora” sou o próprio alimento da minha pequenina Heloisa.
Veja aqui o que a Dra Ana Heloisa tem a dizer sobre as chances que uma criança tem de mamar no peito nascendo com uma fissura labial ou com uma fissura lábio palatal: